domingo, agosto 13, 2006

 
POR QUE RAZÃO MENTEM?





E quando aquelas mãozinhas pequenas e torneadinhas, com dedinhos rechonchudos e ternos, mudam e passam a cumprimentar as pessoas que passam com apertos de mão? Parece mentira!
Afinal cresceram mais do que parecia! E mais depressa apesar de tantas vezes sentirmos que o tempo nunca mais chegava aquele ponto de sossegarmos.

E quando os pezinhos que se esfregavam um no outro durante o sono e as brincadeiras começam a caminhar para se afastarem, ao invés de virem ao encontro de quem os amou e fez crescer?

Pois é, vão ao encontro da vida, do futuro.
Nós somos passado e presente. Um presente qual plataforma de avião para o paraquedista que se atira cheio de medo, mas que se lança na mesma lá do alto em busca de...? Não sei bem de quê pois nunca fui paraquedista nem nada lá perto! Morreria de susto no primeiro segundo longe do contacto com o avião! Mas se aqui estou é porque também me terei atirado na altura desapropriada segundo a opinião dos mais velhos. Para mim foi, certamente, a altura certa.

Mas assim é. Vão à procura deles, do desconhecido, da aventura, das novas descobertas e de sensações por mais que se lembrem, não acreditando, dos nossos conselhos e acautelamentos!
Paralelamente a este esvoaçar para fora dos limites aconselháveis do ninho, passam a ter atitudes que já conhecíamos na filha da amiga ou no primo mais velho, ou na sobrinha do vizinho próximo: começam a mentir, a inventar esquemas e estratégias de encobrir pequenos e grandes acontecimentos.

Incrédulos, repensamos: "Não, não pode ser! Ele nunca me mentia! O que se passará? ". "Afinal mentiu-me mesmo, a minha filhota! E pensava conhecê-la tão bem! ". "Afinal já a apanhei em várias mentiras e omissões! Porquê?".

Porquê? A razão pela qual o fazem é que não pára de nos matraquear a cabeça e nos tira horas de sono.

Mentem-nos com mentiras tão infantis! Por motivos que nem sequer entendemos, mas continuadamente infantis: "...não, não fiz chamadas para telemóveis!"- e a conta do telefone aparece irremediavelmente fora dos limites habituais...Quem foi então? O gato?!! Não!
Mas por que razão mentem?

Confrontada com certas omissões e mentiras que já não tinham mais pernas para andar( nem curtas nem compridas) Maria baixou os olhos e disse: "Não sei, não sei a razão. Não queria que soubesses que não sou fantástica e que, afinal, as notas baixaram muito...ou seja, que tive negas!

"Mas eu iria saber sempre quando o postal das notas chegasse a casa, quando assinasse os testes, quando fosse à escola, enfim, sabes bem que a verdade vem sempre à tona de água e a mentira tem perna curta, não sabes? Não faz sentido mentires! E além disso sabes bem que a mentira é algo muito feio! Bolas, já falámos tantas vezes sobre isto!".

"Sim, mãe eu sei... mas enquanto não soubesses eu era para ti a melhor filha do mundo!".

Quando será que aquelas cabecinhas entenderão que eles são sempre os melhores filhos no mundo do nosso amor? Será necessário mentirem até conseguirem aceitar-se tal qual são? Com os bons e maus bocados, tal qual o pastel de nata(adoro o creme e detesto o folhado)?

Distanciando-me um pouco e amansando a minha fúria, relembro a pré-adolescência da Ana. Apesar de ter sido sempre muito atinada também me pregou algumas mentiras - muito provavelmente mais do que pensei na altura.

Passados mais de dez anos, somos duas boas amigas, amando-nos com um imenso respeito pela identidade de cada uma, compreendendo-nos como só pode quem é feito da mesma carne e com o mesmo sangue. Indiscutivelmente a minha asa de mãe estará sempre em stand by, mesmo quando os netos chegarem, mas quando o caminho que escolhe não é o que me parece melhor a mentira já não está presente para adoçar a conversa.
E sei que tenho a melhor filha do mundo. E ela também sabe que eu sei.


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