quinta-feira, julho 20, 2006

 
ESTA ARTE TÃO DIFÍCIL QUE É EDUCAR





Quantas vezes, no passado, ouvi de sábias bocas amigas “Espera até eles serem adolescentes! Aí é que vais ver o que é complicação!”, como resposta aos lamentos das noites mal dormidas por causa da febre e das dores de ouvidos dos meus filhos. Estas exclamações, dadas à laia de resposta, revelaram-se com tamanho sentido no meu dia-a-dia desde há uns anos para cá, que tenho que os lembrar. “ Dores de barriga? Corridas para as urgências do Hosp. de D. Estefânia? Isso são doces! Isso é normal e é a parte mais fácil! Espera mais uns anitos! Aí é que vais ver o que é difícil! Vais sonhar com as dores de ouvidos e desejar as dores de barriga!”. Claro que sorria mas, sinceramente, naquela altura não me pareciam sábios comentários. Por inexperiência minha e falta de capacidade de observação, sei-o hoje! De facto o que são as noites mal dormidas pelas centenas de vezes que lhes vamos acalmar o choro ou para lhes dar um antipirético comparadas com as que não dormimos de todo pensando como compreendê-los? Dando voltas à cabeça, ao instinto e à sensibilidade para concluirmos como os vamos ajudar, como irão eles conseguir sair desta “fase” tão estranha que é a adolescência nos dias que correm. De facto não é comparável. É amor de igual medida, é preocupação com a mesma cor, é o ser pai ou mãe de coração inteiro, mas é muito mais aflitivo por incapacidade de projectarmos o futuro próximo. Ou de o projectarmos com um final menos apetecível. Quando eram pequeninos, e com as "camuecas" normais e costumeiras dos miúdos sabíamos, de antemão, e quase com cem por cento de certeza que a doença passaria em 48horas ou, no caso das célebres viroses levariam 3, 5, 7 ou 15 dias a passar!?! Não que não nos preocupássemos com essas coisas, e a maior parte das vezes excessivamente estando conscientes que tudo poderia complicar-se, mas não sabíamos de todo o que ainda estava para vir! O que não são e o que não custam as noites do romper dos dentes e dos febrões das anginas comparando-as às noites não dormidas e ao cansaço do desânimo de convivermos com um desenvolvimento, dito adolescente, de forma caótica e nunca conforme o que tínhamos projectado e imaginado?! Para aumentar o nosso desespero está uma atitude de retraimento na comunicação deles para connosco e para com o mundo, respondendo à nossa insistência com um “Não é nada. Estou bem, só preciso de espaço. São coisas minhas. Não, não quero falar!”.
Desesperante, não?
Mas, por outro lado muito educativo para nós, pois aprendemos que como pais conscientes e alertados que somos, temos de conseguir ter a percepção que não é, de facto, o fim do mundo e mesmo que o seja já nada podemos fazer de real como quando os levávamos numa correria às urgências do hospital. Ao longo do tempo, desde que somos pais, começamos a sentirmo-nos aptos a diagnosticar os males do corpo dos nosso filhos... as estranhas viroses, anginas, intoxicações e excessos alimentares. Até mesmo as alergias.
Mas estar apto a reconhecer, e consequentemente ajudar, um adolescente, mesmo nosso filho com quem lidamos desde que nasceu, relativamente aos males ligados ao espírito - depressões, altos e baixos aparentemente inexplicáveis e dificilmente compreensíveis pelos adultos- não é tarefa fácil e, muitas vezes impossível de realizar de uma assentada só!
O que fazer para que entendam que os amamos e só queremos ajudar?
Se antes bastava o nosso colo, a nossa mão e o nosso conforto para acalmar o seu choro? Se antes o transmitir-lhes confiança e o nosso amor era tão mais simples e intuitivo? Pelo que tenho constatado com os “meus” adolescentes- os que através de mim nascerem e os que a mim estão ligados pela preocupação e pelo afecto - muitas vezes sentem-se confusos ao ponto de saberem que sofrem porque sentem esse sofrimento, que necessitam de ajuda, mas sem entenderem muito bem sobre o quê, para quê e porquê! Daí aquela atitude típica de se fecharem pensando que se nem eles entendem o sofrimento muito menos os “cotas” que estão tão longe deles irão entender!
Às depressões sucedem-se as ansiedades, os medos e o recolhimento, o isolamento no quarto ou no grupo de amigos. Querem e pedem-nos mais “liberdade” pensando saber usá-la, mas ainda sem terem sequer noção exacta do que é, de facto, a liberdade nesta vida e o que ela acarreta de responsabilidade. Mesmo quando os educamos com o lema “educar com responsabilidade para a liberdade” e segundo outros slogans que tais, nunca funciona como aparenta, salvo algumas honrosas excepções que sempre existem - a maior parte das vezes no meio de três irmãos educados de forma idêntica - para nos confundirem ainda mais nesta nossa missão feita arte. Cada pessoa é única e desta maneira aprendemos a também olhar os adolescentes: cada jovem é um ser único e deve ser olhado como tal, acredito.
Nas tentativas para os ajudar, além da sensibilidade, do amor, compreensão e firmeza, quanto esforço fazemos para lhes dar a entender que só eles poderão construir as suas vidas futuras e mudar o que os preocupa. Alterar os seus mundos e os fantasmas que lhes tiram o sono e lhes ensombram os olhos antigamente alegres, na medida em que quando se compreenderem a eles poderão tomar as atitudes e as posturas mais adequadas à sua própria felicidade. “Mãe, é preciso todo este sofrimento só para crescer?”- lembro-me tão bem da carita da minha filha mais velha quando teve a sua primeira desilusão amorosa, na qual teimou sem me dar ouvidos. E agora pergunto eu: Tanto sofrimento para continuarmos nós também a crescer e a ajudar-vos a crescerem e a tentarem ser felizes? Não seria bem mais fácil se trouxessem manual de instruções!

dedicado a todos nós, pais de coração inteiro





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